Política Fast-Food e o Declínio do Discurso Político

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Miguel Ângelo

3/9/20253 min read

Outrora um palco para novas ideias, onde prevaleciam discursos repletos de conteúdo, as campanhas eleitorais são agora um exemplo da cultura do fácil consumismo. Para um bom resultado eleitoral já não é necessário um plano concreto ou apresentar objetivos positivos. Chega denegrir a imagem do adversário.

Após a Segunda Guerra Mundial, Richard Nixon, 37º Presidente dos Estados Unidos apresentou o seu método de campanha. Numa época marcada pela Cortina de Ferro, ataca o seu oponente alegando relações com a URSS (nunca chegando a ser comprovadas). Num mundo em que, na maioria dos países, as posições de poder dependem de uma eleição, e sendo o ser humano,a meu ver, normalmente ganancioso, cria-se uma corrida desmedida pelo poder


Com uma grande percentagem da população mundial com baixos níveis de escolaridade, bem como uma grande variedade de problemas sociais e financeiros, é possível que nem todos os eleitores respondam positivamente à apresentação de ideias, respondendo mais facilmente a outros métodos. Não raro é o caso em que a população se revê no discurso populista e apoia-o, elegendo-o, e facilmente se compreende porquê.


Vimos uma demonstração deste fenómeno nas últimas eleições presidenciais americanas. Em especial no debate, observamos dois candidatos cujo foco principal era o rebaixamento do seu adversário e de todas as propostas apresentadas.


Durante as eleições legislativas portuguesas de 2024 houve uma série de debates entre todos os “cabeças de lista”. No entanto, estes debates tinham limites de tempo impostos pelos canais televisivos. Aqueles que estivessem indecisos em quem votar tinham de, em 30 minutos, ouvir todas as ideias de ambos os candidatos, bem como as críticas ao outro partido político. Claro está que é rara a capacidade, hoje em dia, de prestar atenção por horas a fio, contudo apresentavam-nos um debate no modelo Tiktok - 2 minutos por tema, nem mais um segundo, tempo que escasseia quando se tem de falar da governação de um país. Ao invés de contrariamos a menor capacidade de atenção, cedemos a esta


No final das expedidas transmissões, os telespectadores tinham duas opções televisivas: novelas e reality-shows ou análise aos debates. Assim, pergunto: Qual é a necessidade de terminar os debates de forma tão impaciente? Para que a população descubra mais rapidamente o novo caso amoroso num reality show ou para ouvirmos a opinião de especialistas sobre o comportamento dos candidatos, ao invés de procurarmos melhor compreender o seu conteúdo. Desta forma, parece-me claro que os soundbites, a eloquência e a postura num debate tenham primazia nos boletins de voto sobre o conteúdo das propostas eleitorais.


Concomitantemente, as redes sociais amplificam esta lógica, tornando-se um palco onde os políticos disputam atenção através de frases curtas, polémicas calculadas e vídeos virais. A política tornou-se uma guerra pela atenção do público, com semelhanças assombrosas com a publicidade. Se um candidato apresentar uma proposta detalhada, terá dificuldades em competir com outro que resuma tudo numa frase polémica ou num gesto teatral. O discurso racional, assente na apresentação de projetos ponderados, perde terreno para o impacto emocional e o entretenimento.

Finalmente, os próprios meios de comunicação têm uma responsabilidade significativa nesta mudança. A cobertura jornalística privilegia os momentos polémicos e espetaculares, como forma de garantir audiências, e consequentemente receitas publicitárias. O tempo de antena dedicado às campanhas é cada vez menor e, quando existe, foca-se mais nos confrontos pessoais do que nas propostas políticas. Dessa forma, os eleitores são bombardeados com informações fragmentadas e fúteis, sem contexto ou análise aprofundada, o que favorece ainda mais a política do espetáculo, em detrimento do debate.


Vivemos numa era de informações manipuláveis, de discurso político feito para o engajamento. A política cada vez mais se faz em vídeos de 30 segundos. Afinal, tem de ser rápido, há sempre algo mais importante para vermos.