Fazer de David, Golias

Jorge Nuno de Pinto da Costa, o Presidente dos Presidentes

ARTIGO

Miguel Ângelo

2/25/20254 min read

Eternamente um baluarte portuense, um Homem que tinha em si todos os sonhos do mundo, Pinto da Costa dedicou a sua vida ao F.C.Porto, às pessoas da sua cidade e à luta contra o centralismo. Pela sua voz e infindável determinação, ergueu-se um povo, uma cidade, uma nação.


Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo


Viria a ser, acompanhado pela sua inigualável ironia, um pilar para os portistas e portuenses, no entanto, Pinto da Costa, presidente, não foi tudo o que nasceu em Cedofeita, a 28 de Dezembro de 1937. Com igual importância, nasceu Jorge Nuno, nome pelo qual era conhecido em casa e na escola, romântico apaixonado pelo fado, pela poesia, pela cidade invicta e pelo Futebol Clube do Porto.

Tendo ingressado como responsável pelo hóquei em patins, tornou-se numa figura querida de todos os que o conheciam. Rapidamente se tornou o responsável pelas modalidades amadoras e posteriormente pelo futebol. Com esta passagem para um cenário principal no desporto, introduziu um discurso rígido contra o centralismo, algo que o presidente do clube à data, Américo Sá, não apreciou, dada a sua ligação ao CDS-PP.

Após lhe ser pedido que não criticasse tão veementemente os clubes da capital, Pinto da Costa responde que “se for preciso critico-o até a si”, algo que o fez afastar-se do clube, em conjunto com o treinador, José Maria Pedroto. Com essa ruptura, a maioria do plantel apoia-os e recusa-se a treinar, vendo a figura mais enigmática do clube ser afastada. É então, abordado por um grupo de adeptos, dias mais tarde, pedindo-lhe para se candidatar à Presidência. Encorajado pela sua mãe, defendendo que era esse o seu destino, vence efusivamente as eleições com promessas eleitorais até aí impensáveis.


Aquilo que é imortal não pode ser destruído e o F. C. Porto é um clube que teve princípio, mas nunca terá fim. Ninguém é capaz de o destruir. Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do país. O desejo deles é que o F.C. Porto desça de divisão.


Nessa vitória eleitoral, iniciou-se o hábito vitalício de sonhar alto e de nunca parar de ambicionar. Até então, dizia-se com grande frequência que quando o F.C. Porto atravessava a ponte da Arrábida, já tinha perdido, que não havia lugar para uma equipa fora da capital. Pinto da Costa, bem como o clube que presidia tornaram-se num marco de resiliência e de luta contra a centralização, forçando Lisboa a ver a cidade que deu nome a Portugal como uma potência igual a si.


Quando passávamos a Ponte da Arrábida já estávamos a perder por três. Deu-se a volta a essa situação com a entrada do senhor Pedroto e com a chegada de Pinto da Costa à presidência. Essas duas pessoas é que começaram a ir contra os clubes da capital.

Tinha, na sua campanha eleitoral, para espanto geral, prometido aos portistas que o seu clube estaria presente numa final europeia, feito que não era conseguido em Portugal desde 1968. Em 1984, dois anos após a sua chegada à presidência, cumpre a sua promessa, chegando o clube à tão desejada final Europeia. Não conseguindo vencer, não baixou os braços, superou a promessa feita, e três anos depois, o clube reapareceu na final, desta vez, empurrada para a glória pelo calcanhar de Madjer.

Podem todos ter a certeza que vamos determinados para procurar vencer, e não para vir muito contentes pelo facto de termos sido finalistas.


O F.C. Porto deixou de se medir por baixo com a sua chegada. Adotou a mentalidade de que ganhar não é uma ocasião especial, mas que deve ser visto como algo recorrente. Tornou a equipa que quando atravessava o Douro para sul já estava a perder, numa potência mundial e que não se vergava perante nada nem ninguém.


Era o reconhecimento daquilo que vínhamos a afirmar anteriormente, de que éramos capazes, não havia impossíveis. Tínhamos de ser campeões porque éramos melhores.


Visionário, repensou o símbolo do clube, bem como o seu significado. Pela sua mão, o Futebol Clube do Porto “adotou” o dragão utilizado no escudo da cidade como emblema e como figura mítica que representava os ideais de ferocidade, algo que jamais se vergará perante o que quer que seja. O contrapolo do cavaleiro num cavalo branco, por quem todos torcem. Em Portugal, ninguém queria, a seu ver, que a sua cidade e clube vencessem, e por isso, o dragão representa o resultado da sua ambição romântica ao fazer da sua cidade indomável.


Peço-vos a maior serenidade, porque acabo de ser avisado que a GNR vem a caminho do pavilhão do F. C. Porto com o pretexto de que estará aqui uma bomba. Se estiver aqui uma bomba, eu espero que ela expluda!

A importância de Jorge Nuno Pinto da Costa vai muito para além das taças vencidas ou de lutas contra o centralismo. O seu maior feito foram as alegrias que permitiu aos portistas e portuenses. Nas suas palavras: “àquela hora, estaria nas ruas muita gente que tem vidas que não justificariam estar tão felizes, se não fosse a vitória do F.C. Porto.” Por essa mesma razão, pelas alegrias proporcionadas através das vitórias e pela honra conquistada através do empenho e ambição, a cidade e o clube confundem-se de uma forma poética, partilhando muito mais do que só um nome: a sua identidade.

A multidão num grito só de todos nós.